sábado, 16 de julho de 2011

OLHANDO PARA O CÉU





Olhando para o Céu



Entediado de meus dias comuns
permiti-me sair à rua e tentar espairecer pelas alamedas as quais rotineiramente transitava. Estas, sempre abarrotadas de pessoas se chocando umas as outras, qual formigueiro.
Não buscava nada, apenas oxigenar meus pensamentos ao entretê-los com a frenética vida de uma metrópole não planejada e perdida em seus próprios conceitos divergentes. Neste passo, segui em minha caminhada, reparando no burburinho dos vendedores tentando cada um mais que o outro atrair clientes para assegurar seus ganhos diários.
Em alguns momentos ousava mesmo diante de tudo a minha volta, refletir sobre o estado de inércia na qual me submeti nos últimos meses. Começava a experimentar um princípio de depressão que lentamente se alojava em meus dias tornando-se comum e quase imperceptível.
Mas enfim, busco desopilar-me e não aumentar a pressão, logo abandono tais reflexões entregando-me ao momento de relaxamento que busquei ao estar nas ruas.
São Paulo oferece uma diversidade infindável de opções a quem busca distração ou simplesmente fugir da monotonia, com essa intenção dirijo-me ao bairro da Liberdade reduto de um comércio diversificado e de grande concentração de imigrantes de origem oriental.
Como o dia se adiantou nas horas e se aproximava do meio-dia, procurei servir-me da culinária japonesa com seus pratos exóticos e saborosos.
Busquei o restaurante de sempre, a mesma mesa, e incrivelmente, em um restaurante japonês optei por um prato chinês, o subuta, que são pedaços de carne de porco com legumes refogados em um molho agridoce, delicioso e extremamente digestivo embora a primeira vista não o pareça, saboreei-o com plena satisfação.
Após concluir minha refeição preparava-me para efetuar o pagamento e continuar em minha caminhada, quando percebo definida silhueta sentar-se a mesa próxima a minha.
Sossego-me rapidamente em perder a intenção de me afastar daquele ambiente depois de registrar em minha retina tão esguia expressão feminina, refeito de meu êxtase inicial passo a melhor observar tão esbelta figura.
Repouso meus olhos sensibilizados por feições orientais tão delicadamente torneadas, talhadas certamente por mãos divinas cujo zelo se encarregou de expressar a perfeição em tal personalidade feminina.
Seus olhos, simetricamente alinhados em uma face da mais pura porcelana, adornada com pequenino nariz arrebitado, as maçãs eram proporcionais e levemente rosadas, seu queixo suavemente arredondado, suas orelhas encobertas por negros cabelos, e a cor de seus olhos! Jamais vira um azul tão profundo, digno dos mais belos oceanos. Sua boca, pequena constituída de lábios igualmente rosados e senhora de um gracioso sorriso .
Detive-me ainda em seu sorriso angelical, beirava a expressão divina encarnada em corpo humano.
A razão de meu deslumbramento achava-se protegida por um kimono que acompanhava a cor de seus olhos realçando ainda mais sua estonteante presença.
Não me detive e permaneci a descrevê-la em minha mente silenciosa, mas que bradava internamente pedindo-me aproximação. Contive-me arduamente, com medo de espantar a razão de minha admiração, mas seguindo em minhas observações, portava-se a mesa com extrema delicadeza, seu gestual era espontâneo mas ao mesmo tempo comedido, certamente em razão de sua educação oriental.
Desapercebidamente devido ao meu encantamento, em um primeiro momento não registrará que nossos olhares se cruzaram por segundos, lamentei penalizando-me por não ter centrado atenção naquele momento, tentei recuperar a oportunidade sendo mais incisivo em meus olhares, no que obtive imediata reciprocidade, encorajei-me e expressei acanhado sorriso no que fui instantaneamente contemplado com um cumprimento mais natural do que minha cautelosa iniciativa.
Neste ponto, percebi meu coração disparar, minhas mãos ficaram trêmulas e suadas, desorientado, fiquei parcialmente inerte, pois era acostumado a abordagens e não entendia o que se passava comigo naqueles segundos.
Busquei o ar de maneira profunda para procurar sair daquele transe e ganhar movimentos que me proporcionassem gerar alguma atitude mais objetiva. Confesso que com grande esforço subjuguei inoportuna instabilidade, vencendo-a e retornando a minha condição natural.
Entre o estado de êxtase e surpresa, ousei levantar-me de minha mesa e me dirigir até o foco de meu encantamento, estendi-lhe respeitosamente a mão e em um inoportuno gaguejar desejei-lhe boa tarde obtendo imediata resposta.
Educadamente convidou-me a sentar junto a ela, no que prontamente aceitei, apresentei-me e indaguei-lhe o nome que tão ansiosamente aguardava ouvir, e quando a ouvi pronunciar seu nome tinha a certeza de que estava apaixonado, Yabi, disse ela, comentando que significava “noite bonita”.
Conversamos por duas longas horas e à medida que nossa conversa avançava mais eu me enternecia e me apaixonava, sentia nela uma mesma identificação com os meus sentimentos, falamos de nossas vidas, de nossas experiências, nossos micos e situações engraçadas, queria que nunca aquele momento acabasse que este encontro fosse eternizado.
Necessitando ir até o toilette pedi-lhe licença por um breve instante, apressei-me em não demorar, mas ao chegar a nossa mesa não a encontrei, perguntei a todos os garçons, procurei-a nos dois ambientes do restaurante, nas proximidades, e à medida que o tempo passava, um desespero se apossava de meu ser, não entendia mais nada e aquela dor no peito só aumentava como que a rasgar a minha carne dilacerada pelo sentimento de perda que me dominava integralmente.
Quando a noite se apossou do dia, dei-me por vencido, embora relutando, retornei a meu apartamento vazio e solitário, mais solitário ainda, pois agora havia uma perda, uma ausência a reclamar como dolorida companhia.
Naquela noite não consegui dormir, registrei todos os ruídos noturnos, acompanhei vagarosamente os ponteiros do relógio se mover e gradualmente na medida em que o dia voltava a imperar enervava-me em um misto de expectativa e esperança de retornar a encontrá-la.
Voltei ao restaurante, sentei-me a mesa em que compartilhei com ela doces momentos, pacienciosamente aguardei, mas para minha frustração e infelicidade ela não apareceu, indaguei a todos os garçons e ninguém a tinha visto antes daquele dia em que nos encontramos.
Decepcionado, deprimido continuei a procurá-la por tantos dias que acredito terem se passado meses, ainda hoje, retorno ao mesmo restaurante, já com a esperança vazia, mas com o coração cheio de dor e ausência.
Consolo-me em acreditar que fora um anjo que descera a terra para se fazer presente a mim por instantes que seja trazer-me a alegria, o reconhecimento do amor, da adoração, mas não sabe ela que ao partir levou consigo meu coração.
Por esta razão tenho vivido meus dias olhando para o céu na ilusão que ela desça e devolva meu coração e compartilhe deste amor que hoje faz rima com a dor, só me resta então, olhar para o céu e...


Autoria: Roberto Velasco
Olhando Para o Céu – 16/05//11
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