Metades
Não sei, parece que me perdi
Em algum instante distrai-me
E já não me sinto mais inteiro
Vejo-me por metades
Perdidas e embaralhadas
Como peças caídas em um tabuleiro
Onde já não distingo a mais nada
Tomado por um vazio inaudível
Reflito e conjecturo hipóteses vãs
Inconsistentes, evasivas e sem nexo
Apenas metades de mim soltas
E entregues as avenidas da vida
Onde a direção ainda padece em definir-se
Tento inutilmente encontrar a luz
Mas nuvens espessas se impõem
Aos raios da consciência lúcida
Talvez não esteja mais disponível
Em minha agora confusa racionalidade
Compreender a angustia da qual sou tomado
Talvez, tenha que observar meus sentimentos
Sentimentos? Agora que ouso pensar neles
Caio no vazio de mim mesmo
Minh’alma profundamente inquieta
Enfraquece-se ao ver-se exposta
Como que a querer manter-se distante
Da atenção que a ela agora é dispensada
Mas, detenho-me e tomo-a
Em minhas mãos tremulas
Acolhendo-a carinhosamente e enternecido
Pela dor da qual se faz presença em sua essência
Dedico-lhe minha atenção e zelo
Apresso-me a ouvir seus reclamos
E nesta audição da qual me proponho
Faço-me espanto, faço-me incredulidade
Aterrorizo-me com o que ouço
Ajoelho-me em prantos diante de minha descoberta
Reluto ainda a aceita-la
Com a face banhada por rios de lagrimas
Tento consolar e encorajá-la
Mas sem argumentos me silêncio
Sem compreender em que momento
Meu coração foi alvejado
E aos poucos foi apagando sua luz
Até tornar-se dor, medo e desesperança
Não sabia eu que minh’alma
Servia-se do amor para manter seu brilho
Não sabia eu, que meu coração é amor
Mas que hoje, adormecido desta condição
Enclausurado pelas desilusões da vida
Foi lentamente perdendo sua intensidade
Sua consistência foi se exaurindo
Até restarem apenas metades do que já fui, apenas metades...
Autoria: Roberto Velasco
Metades: 10/07/11
Esta poesia é protegida pela lei dos direitos autorais.
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